Rodrigo Sant'Anna faz sucesso na TV com bordão 'Ai, como eu tô bandida'.Humorista se sente 'angustiado' com a fama da personagem no humorístico.
Rodrigo Sant'Anna de cara limpa e no papel da faxineira Valéria (Foto: Divulgação/TV Globo).
Até dois meses atrás, Rodrigo Sant’Anna era na TV apenas o pagodeiro romântico e brega Admilson, parceiro de Lady Kate. Mas foi preciso uma operação de sexo e botar “sílica” para se transformar na personagem cômica do ano até agora na televisão brasileira: a transformista Valéria Vasques, mais conhecida pelo bordão “Ai, como eu tô bandida”.
Valéria e Janete em cena: quadro teve tempo deduração triplicado (Foto: Divulgação/TV Globo).
“Ser chamado de Valéria na rua é constrangedor...”, admite Sant’Anna, em entrevista ao G1.
A personagem, que contracena com a saco de pancadas Janete (Thalita
Carauta), estreou no final de maio no quadro “Metrô Zorra Total”. Desde
então, triplicou seu tempo de duração, ficando até 15 minutos no ar.
Os dois atores se conhecem há mais de uma década e estão juntos no
espetáculo teatral "Os suburbanos", criado por Sant'Anna. Valéria foi
importada do teatro, aliás, e seu o bordão inicial era “Ai, como eu tô
piranha”. “Foi uma questão de sorte, caí no gosto do público com um
personagem que já dava certo e que foi para a TV com a mesma qualidade”,
diz o ator, que confessa não se sentir confortável com o sucesso da
personagem. “Já fico tão angustiado com o próximo [personagem] que
precisarei ter que eu não curto a fama”,
Em tempos em que humoristas pregam o humor “inteligente, do mal e do
desconforto”, Sant’Anna foge desse discurso com um estilo cômico
inspirado no suburbano carioca. “Meu humor é bastante popular. Tenho
essa característica do suburbano, da espontaneidade, de falar o que dá
na telha. É algo claramente tirado da minha vida”, afirma o comediante,
que cresceu no Morro dos Macacos, no Rio.
Ciente da patrulha do politicamente correto, Sant’Anna sabe que nunca
antes os humoristas estiveram tanto na linha de tiro. “Os preconceitos
hoje são mais questionados. Eu acho bacana você se policiar”, diz o
ator, que assim que se (trans)veste de Valéria encarna uma desbocada e
preconceituosa faxineira. Janete é a única pessoa que conhece o passado
(leia-se: Valdemar) da faxineira e busca uma aproximação a cada encontro
no metrô carioca.
As investidas não dão certo, e Valéria afasta a conhecida com uma
metralhadora verbal de ofensas. “O humor das duas é bem cênico, às vezes
pego muito pesado, é quase uma crueldade o que faço em cena”, comenta.
“Faço uma personagem em meu solo 'Comício gargalhada' que é uma favelada
que só fala de enchente, é ainda pior. Humorista faz humor num limiar
muito sutil. O que fazemos é um deboche da realidade. O cuidado [para
não ofender] tem de existir em qualquer quesito”.
Valéria e Janete têm ajudado a audiência de “Zorra total” nas noites de
sábado. Na internet, há paródias como o funk “Ai, como eu tô bandida”, e
expressões como “tá no cutuque” ganharam as ruas. Na comunidade gay as
personagens também são ídolos e duas drag queens chegaram a realizar na
boate gay paulistana Blue Space um breve show inspirado na dupla da TV.
“Comédia é bem aceita em qualquer lugar. Por chegar de maneira mais
leve às pessoas, ela não exige uma reflexão muito pesada sobre certo
tema”, afirma o ator. “Quando você está se divertindo, o público percebe
e ri junto. É isso”, termina, revelando a receita para “estar no
cutuque”.
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