SALVADOR – Classificado como “frio” pela delegada que
investiga o acidente na BR-116 que matou dezenas de pernambucanos, o
motorista da carreta, Márcio Clênio Machado, 55 anos, prestou depoimento
na tarde desta segunda-feira (5) em Jaguaquara, município distante 70
quilômetros do local da tragédia.
Segundo a titular da delegacia, Maria
do Socorro Damásio, a versão apresentada pelo condutor não condiz com os
registros da Polícia Rodoviária Federal nem com o relato do motorista
do caminhão-baú, Rodrigo de Almeida, 26, que também depôs e cujo veículo
foi atingido no último sábado. A delegada está segura de que o condutor
da carreta foi imprudente e invadiu a faixa onde estava o ônibus.
Maria do Socorro indiciou Márcio por
homicídio com dolo eventual. Isso significa que o motorista não queria
cometer o crime, mas assumiu o risco ao fazer uma ultrapassagem proibida
no quilômetro 583 da BR-116. “Se ele tivesse ficado na faixa dele, nada
disso teria acontecido”, comentou a delegada.
Márcio se apresentou à polícia por volta
das 9h30, mas só prestou depoimento às 15h. O atraso ocorreu porque a
delegada ficou aguardando o boletim de ocorrência da PRF e da cópia do
depoimento do motorista do caminhão-baú, testemunha ocular do acidente.
Segundo ela, o B.O. contém todas as informações e fotografias do local
do acidente. O laudo pericial chegou apenas no começo da noite desta
segunda, mas Maria do Socorro já havia se antecipado e conversado
informalmente com um perito.
“Ele me informou que não há marcas de frenagem da carreta na faixa onde
ela deveria passar e, sim, na contramão”, explicou a delegada. Na curva
onde ocorreu o acidente, que fica numa ladeira, há uma faixa para quem
está descendo (nesse caso, a carreta), e duas para quem está subindo
(ônibus e caminhão-baú).
O depoimento de Rodrigo de Almeida, que durou cerca de uma hora,
esclareceu ainda mais as circunstâncias do acidente. “Ele contou que
estava na faixa da direita e viu o ônibus ultrapassá-lo na subida da
ladeira, pela faixa do meio. Logo em seguida, viu a carreta descendo em
alta velocidade e invadindo a faixa do ônibus”, relatou Maria do
Socorro. “Rodrigo disse que quando o motorista da carreta percebeu que
iria bater, tentou voltar, mas já era tarde demais e a carga do veículo
atingiu o ônibus em cheio.” O caminhoneiro viajava de São Paulo para
Feira de Santana, na Bahia.
FRIEZA - O condutor da carreta, de placa KBD-2342, de
Criciúma, em Santa Catarina, falou à delegada por uma hora e 20 minutos.
“Ele negou tudo. Disse que a culpa foi do motorista do ônibus. Mas o
que me impressionou foi a frieza com que ele falou. Nem parecia que
esteve envolvido num acidente que matou 34 pessoas. E é lógico que ele
iria acusar o condutor do ônibus, o homem morreu e não pode se
defender”, opinou.
Márcio Clênio Machado é de Criciúma e voltou para casa, onde deverá
aguardar a convocação da Justiça. Horas antes do acidente, ele havia
saído de Feira de Santana (BA) para o Rio de Janeiro, com a carreta
carregada de gesso.
Por:Vadilson Oliveira
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